Última alteração: 2022-09-29
Resumo
A pobreza menstrual é uma condição que afeta mais de 500 milhões de mulheres no mundo. A dignidade menstrual está associada à garantia de condições higiênicas e sanitárias adequadas e necessárias ao período menstrual, um direito adquirido desde a criação da Lei Federal nº 14.214/2021. Realizou-se uma pesquisa qualitativa através de entrevistas a discentes do IFMG-Bambuí, com uso de um questionário, para saber sobre seu conhecimento e suas percepções acerca da dignidade menstrual, entre os dias 4 a 6 de julho de 2022. Eles foram abordados na fila e após sua saída do restaurante universitário, na lanchonete e também em algumas salas de aulas, no período diurno e noturno. Adicionalmente, montou-se uma tenda para divulgar a campanha “menstruAÇÃO”, uma iniciativa para conscientizar sobre dignidade menstrual e divulgar a transformação quatro banheiros femininos do campus em banheiros acolhedores (com papel higiênico, sabonete, absorventes e decoração). Dos 458 entrevistados, 60,2% se auto identificaram como sendo do gênero feminino, 39,2% do gênero masculino, 0,3% como não binário e 0,3% preferiu não dizer. Boa parte dos discentes disseram nunca ter ouvido falar em dignidade menstrual (42,4%) e não saberem (35,6%) ou saberem pouco (41,3%) o seu significado. A maioria das pessoas (96,3%) não conhecia nenhum projeto ou iniciativa no município que tratasse desta temática. No entanto, 91,9% afirmaram que a pobreza menstrual é um problema de saúde pública e de direitos humanos, sendo que 95% acreditaram que resolvê-lo inclui distribuir absorventes, garantir saneamento, saúde e informação à população. Muitos entrevistados (60,9%) não reconheceram que a pobreza menstrual é uma das causas de falta e desistência da escola, tampouco compreenderam (64,2%) que a ausência de banheiro e chuveiro dentro de casa estão relacionadas a este problema. Cerca de 32% acreditaram que no Brasil mulheres brancas e negras são igualmente afetadas. O conceito sobre dignidade menstrual na comunidade de alunos do IFMG-Bambuí não está bem consolidado, embora boa parte dos mesmos reconheça algumas questões correlatas que impactam rotineiramente a vida das mulheres. Uma em cada quatro jovens no Brasil não tem acesso a produtos menstruais, no entanto a vulnerabilidade social atinge majoritariamente as mulheres negras, que representam 65% das mulheres atingidas pela pobreza menstrual. Nem todos os discentes reconheceram os desdobramentos da desigualdade racial no nosso país, repercutindo no menor acesso a higiene, saúde e educação menstrual. Na opinião de 83,3% dos discentes, os banheiros acolhedores no IFMG-Bambuí e o modelo de abastecimento comunitário de absorventes (“Precisou, pegue. Quando puder, deixe.”) podem dar certo no campus. Apesar disso, ainda é cedo para concluir sobre sua efetividade. Sugere-se que ações como esta recebam reforços educativos periódicos, envolvendo o uso racional de papel e sabonete, consciência coletiva, cooperação e sororidade. Também é importante o fortalecimento de projetos, grupos de trabalho e campanhas que tratem da dignidade menstrual em toda a comunidade bambuiense.
Palavras-chave: pobreza menstrual; saúde pública; absorvente; banheiros acolhedores; entrevista.